Todo traidor é um mau-caráter?
O terapeuta Luiz Alberto Hanns explica como lidar com a raiva de ter sido traído, e fala sobre as diferenças entre infidelidades: quando é o caso de dar a segunda chance?
A maioria das pessoas fica furiosa por dois motivos: indignação moral e ter sido rejeitada. Revejamos suas concepções morais. Seu parceiro pode ter sido incorreto, sacana, mentiroso, dissimulado, desleal, mas será que ter um caso extraconjugal faz dele um mau-caráter? Ter um caso é imoral? Depende.
Ficar atolada em recriminações moralistas não vai ajudá-la. Quer você decida se separar ou resgatar a relação, não "criminalize" o parceiro e nem se "vitimize". Agir movida a raiva e ressentimento não é favorável (e ainda pior se vocês tiverem filhos). Há traições e traições. Veja a seguir os três casos que atendi em consultório: André, o bom-caráter, Rui, o egoísta e Walter, o marido cruel.
Bom-caráter também trai
Quando Juliana soube que André teve um caso, ficou indignada. Acreditava que é imoral “mentir e trair” e que “nada justifica uma infidelidade”. Dizia que André primeiro deveria ter enfrentado os problemas matrimoniais e, se quisesse ter um caso, que a avisasse, ela teria o direito de saber. Poderia decidir separar-se ou conviver com isto, mas jamais ser enganada em sua boa-fé.
André havia começado o caso buscando um respiradouro para uma relação deteriorada, mas em pouco tempo viu-se em um inferno. Não sabia mentir e tinha remorsos de enganar a esposa. Pressionado pela amante, passou a mentir também para ela. Vivia apavorado de perder Juliana e a família, mas também de perder a amante. Ao ser descoberto, entrou em desespero e passou a lutar pelo casamento.
Só aos poucos Juliana começou a entender que, apesar de ter mentido e dissimulado, André tinha boa índole. Mesmo sentindo raiva, entendeu que ele passou por impasses difíceis, que ele também sofreu. Embora a tivesse enganado, não foi leviano ou cruel. Entender isso não aliviou a dor de Juliana, mas deslocou o foco das recriminações moralistas para problemas que havia no casamento e abriu espaço para ela lidar com a rejeição e insegurança.
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